Olha só essa dica de leitura do mês de janeiro!

Rodrigo de Souza Leão, não tem medo de enfrentar (com urgência e coragem) seus demônios. Pelo contrário, os transforma em aliados. Faleceu prematuramente em julho de 2009, em uma clínica psiquiátrica, o escritor conviveu com a esquizofrenia por mais de 20 anos. O que não o impediu — muito pelo contrário — de produziu intensamente.

As raras lucidez e consciência sobre sua própria condição são evidenciadas em O Esquizoide: Coração na Boca. A começar pelo título — um rótulo que o autor faz questão de grudar e desgrudar na própria face. 

 O Esquizoide é, ao mesmo tempo, absolutamente ficcional, mas com altas doses autobiográficas. Um misto de diário, romance, novela, depoimento, fábula, que amontoa delírio e lucidez, melancolia, resistência e solidão.

O poeta, que canta sua prisão para falar de liberdade, alerta que é melhor o conhecer “pelas atitudes do que pelo cantar esquizofrênico”. Numa narrativa surpreendentemente simples e leve, apesar de todo o peso que carrega, Rodrigo faz um relato consciente — e até político — de sua condição de esquizofrênico e de seu papel de escritor. Ele usa a palavra como arma para encarar a própria dor e, por consequência, diminuir o sofrimento de seus leitores, com uma generosidade que o motivava a se expor por inteiro e desarmado, e lutar pela humanização do tratamento psiquiátrico.