Para começar o tema desse artigo – timidez -, trouxe um pedaço de uma música que muitos já devem conhecer.

 “Falo pouco, pois não sou
De dar indiretas
Me arrependo do que digo
Em frases incertas
Se eu tento ser direto
O medo me ataca
Sem poder nada fazer”
(Biquini Cavadão – Timidez)

Muitas músicas expressam, de uma forma divertida, um estado emocional que, se colocado de uma maneira mais formal, não haveria tanta identificação por parte de quem ouve. Assim é com essa música do Biquini Cavadão, e com tantas outras.

Analisando a parte dessa letra que copiei acima, percebe-se a sensação que uma pessoa tímida pode ter em uma simples situação cotidiana, ao ter que conversar com alguém. O ‘eu lírico’ (assim chama o “eu” de um poema) revela uma falta de habilidades sociais.  Falta essa que é comum em pessoas que se consideram tímidas. Há uma insegurança no agir e no falar, um receio de serem julgadas e um não-saber-agir.

O tímido apresenta muita ansiedade quando em atividades nas quais precisa se expor em público, em ser o centro das atenções ou estar no meio de muitas pessoas, principalmente se desconhecidas. Sente o coração acelerado e as mãos suando.

Alguns graus de timidez podem chegar a se transformar numa fobia social, cujos sinais de ansiedade são mais intensos. Para o Manual DSM-V, quando existir um impacto grande e significativo no funcionamento social e profissional, um diagnóstico de transtorno de ansiedade social (fobia social) pode ser considerado.

Falar em timidez é falar também em introversão. Características que não são sinônimas, mas que muitas vezes convivem juntas (para o desespero do tímido).

Jung traçou um paralelo sobre a personalidade e seus graus de extroversão/introversão.  Para ele, o extrovertido se atenta mais aos objetos de seu interesse, ao mundo ao seu redor, tendendo a ações práticas e à iniciativa.

Já os introvertidos atentam-se ao seu interior, ao subjetivo, aos seus próprios processos psicológicos, tendendo à reflexão.

Assim, podemos ter um introvertido que não seja tímido. Ele é uma pessoa mais reflexiva e quieta. Pensa mais antes de falar e agir, elabora diversos conceitos em suas reflexões e tem opiniões formadas para si. Porém, ele não sente grande dificuldade em interagir e se expor em público.

Há ainda os tímidos ocasionais. Sentem-se confortáveis em interagir em situações bem específicas, mas ficam mudos em outros contextos.

Mas por que o tímido se sente assim? Por que algumas pessoas têm tanta facilidade para se comunicar, tanta desenvoltura, enquanto a pessoa tímida se sente meio atrapalhada?

Bom, existem muitas possibilidades para explicar tal questão.

 

Possíveis causas da timidez

Genética

Sim. Assim como outros traços de comportamento ou personalidade, o fator genético é uma influência.  Uma pesquisa da Universidade de Vanderbilt, Estados Unidos, mostra que a estrutura cerebral dos tímidos possui alterações em duas áreas diferentes: a amígdala e o hipocampo. Assim, sentiriam o ambiente de uma forma distinta dos demais.

Estímulo ambiental

As vivências são mais influenciadoras que a genética, nesse caso. As contingências às quais a pessoa se expôs desde o início de sua vida poderá tornar a pessoa mais insegura e com uma autoestima mais baixa.

Se passou por situações humilhantes na escola, por exemplo, uma professora que obrigava a criança a ficar no quadro, na frente de toda a classe, até conseguir resolver um problema de matemática, isso possivelmente influenciará em situações futuras nas quais tenha que se expor, deixando-a ansiosa e com insegurança.

Baixas habilidades sociais

Uma pessoa tímida costuma apresentar falhas em suas habilidades sociais. Ela não aprendeu a melhor forma de se expressar e de interagir com o próximo. Pode se comportar de maneira negativa à aproximação de um colega, mesmo sem ter intenção (como não responder a um simples “bom dia”, por sentir na hora tantas sensações aversivas, que a impedem de dar a resposta no momento adequado). Com isso, pode ser mal interpretada como se fosse fria, distante e antipática.

Tímidos são, em grade parte, mais passivos que assertivos. Não conseguem dizer de forma clara o que querem. Aceitam situações que não gostariam. E por mais que sofram sendo assim, não conseguem mudar isso tão fácil.

Na escola ou na faculdade, costumam fugir de trabalhos que precisam ser feitos oralmente, colocando essa função a outros membros do grupo e se encarregando do trabalho de outras partes em que não precisam se expor.

Em situações sociais, pode fazer uso do álcool, como um estimulante a deixar a timidez de lado. Isso precisa ser um foco de atenção, para que não se torne um vício com o tempo.

Timidez junto com introversão

Pessoas introvertidas costumam recuperar suas energias de um jeito diferente das pessoas extrovertidas. Enquanto as primeiras possuem necessidade de repor as energias estando sozinhos, as segundas repõem as energias em contato com outras pessoas. As primeiras sentem suas energias esgotadas no meio de muitas pessoas depois de um tempo. As segundas sentem monotonia quando ficam muito tempo longe do contato social.

A introversão junto de uma timidez intensifica ainda mais as características de serem quietos e não interagirem.

 

Questão cultural

A cultura dita muitas regras de como devemos nos comportar e do que é desejável em determinada situação. O que em uma cultura pode ser considerado o jeito politizado de agir, em outra pode ser visto como antissocial.

Às vezes, em outra cultura,você poderia não ser considerado tão tímido assim.

 E você deve estar querendo me perguntar:

Timidez tem cura? Ou como perder a timidez?

Del Prette e Del Prette (um casal de psicólogos famoso nessa área das habilidades sociais) defende um treino de habilidades sociais para um melhor desenvolvimento de competências dessa área. Esse treinamento envolveria “um arranjo de contingências ambientais necessárias para a aquisição, fortalecimento e manutenção de comportamentos interpessoais”.

Na prática, um psicólogo poderia trabalhar em sessão com um ensaio comportamental, induzindo o paciente a se imaginar na situação que lhe causa ansiedade e praticando a forma de interagir. O paciente fica o tempo todo sob orientação do terapeuta, que o observa e faz o direcionamento necessário.

Técnicas de relaxamento também auxiliam a diminuir a ansiedade, facilitando o processo. São muito usadas, dependendo do caso.

Para Del Prette e Del Prette, a ansiedade e a assertividade caminham em sentidos opostos. Enquanto a ansiedade inibe as iniciativas de interação, levando à esquiva ou fuga dos contatos sociais, a aquisição de habilidades assertivas reduz a ansiedade.

Além disso, há que se investigar outras influências como a baixa autoestima e as crenças limitantes do comportamento. Ou ainda possíveis situações traumatizantes da infância e que hoje ainda assombram os pensamentos da pessoa tímida.

Enfim, há muito o que ser feito para ajudar os tímidos a deixarem de ser tímidos (ou no mínimo diminuir bastante essa timidez) e a psicologia proporciona dezenas de abordagens e técnicas.

E você? É mais introvertido ou extrovertido? Sua timidez atrapalha suas atividades diárias?

É importante prestar atenção nisso. Você se conhecendo melhor, saberá até o seu jeito de repor suas energias. E também se sentirá menos culpado diante das cobranças de pessoas que são o oposto da sua personalidade. Pois você aprendeu aqui comigo que cada um (introvertido ou extrovertido) se satisfaz de uma maneira diferente. E está tudo certo.

Contudo, se a timidez te desagradar muito a ponto de atrapalhar seu desempenho e suas relações sociais, procure alguma ajuda.

Compartilhe o artigo para que as pessoas entendam melhor como a questão da timidez pode afetar quem a sente.