A autossabotagem envolve aquelas situações que parecem se repetir inúmeras vezes em nossas vidas, mesmo que não desejemos.

Muitas vezes, as pessoas se envolvem nesses ciclos de repetições, sofrem, prometem nunca mais entrar neles, mas de repente veem tudo acontecendo mais uma vez.

Parece simples mudar. Afinal, é só não escolher de novo aquilo que é tão ruim…  mas será que é realmente assim?

 

A autossabotagem do dia a dia

João, quando criança, sentia muito a falta do pai. Seu pai trabalhava muito para sustentar toda a família, que era ele, mais 2 irmãos e sua mãe, que não trabalhava. Além disso, quando estava em casa, o pai era bem distante emocionalmente.

João não se lembra de alguma vez já ter recebido um abraço dele. Muito menos qualquer palavra que demonstrasse amor ou incentivo. Esse era o papel da mãe. O do pai era apenas prover a família. Mas João se incomodava bastante com isso, pois sentia falta dele. Queria saber o que era ter um “pai de verdade”, igual seus amigos.

Crescendo com certa amargura e insegurança pelo que o pai sentia por ele, prometeu a si mesmo que quando tivesse filhos, seria o melhor pai do mundo. Passaria todo o final de semana brincando com os filhos e levando sua família para se divertir, algo que nunca teve.

João agora tem 40 anos. Está casado com Maria, que está há 8 sem trabalhar, por causa de uma depressão. Para conseguir sustentar a casa, João precisa trabalhar muito. Inclusive, arrumou um trabalho aos finais de semana, assim consegue garantir que seu filho, Pedro, de 10 anos, estude na melhor escola.

João não consegue descansar, pois só trabalha. Não consegue, por esse motivo, dar atenção a Pedro. Quando tem algum tempo livre, João sai para jogar futebol com os amigos. Afinal, é assim que ele consegue relaxar. Porém, no fim do dia, sempre se sente angustiado por não conseguir dar a Pedro a atenção que ele tanto gostaria.

Onde foi que João errou? Por que esse tipo de ciclo se repete, mesmo que a gente prometa a si mesmo que fará diferente?

Em vez do João, pense na Roberta, que está sempre tentando controlar o seu peso, porque está com problemas no coração, mas assim que consegue emagrecer um pouco, se dá de presente um pedaço de pudim.

No lugar da Roberta, pense na Ana, que está sempre sofrendo nos seus relacionamentos amorosos, mas sempre se envolve com o mesmo tipo de homem, que a humilha e é agressivo. Inclusive, Ana teve um pai que ficava bêbado e sempre agredia sua mãe.

Ou então, pense no Antônio, que apesar de saber de todas as suas responsabilidades no trabalho, está sempre adiando as tarefas, procrastinando suas obrigações. Vive chegando atrasado ao trabalho atual, e no anterior já foi despedido por ser considerado “preguiçoso”.

 

O que define a autossabotagem?

A autossabotagem é aquele comportamento que faz parte de um padrão repetitivo. Muitas vezes, ele é trazido por nós já na infância, por algo que vivenciávamos e causava angústia.

É um tipo de boicote com o nosso próprio sucesso. Um comportamento que dificulta mudarmos algo em nossas vidas, por estarmos já acostumados com certo hábito.

É quando nossos comportamentos nos impedem de atingir as metas e os objetivos que tanto queríamos. São tipos de empecilhos que criamos, para dificultar nossos compromissos ou sonhos.

Ou ainda, é aquele tipo de padrão comportamental que, apesar de causar sofrimento, já é algo conhecido. Assim, não precisamos correr o risco de tentar algo novo e diferente. Não precisamos lidar com a insegurança e a ansiedade que isso traria.

Porém, esses hábitos autodestrutivos são muitas vezes feitos inconscientemente. Em muitos casos, a pessoa não se dá conta do mal que faz contra ela mesma. Na maior parte do tempo, ela realmente não sabe que se autoboicota.

Às vezes a pessoa já se acostuma a sentir o sofrimento. Age de maneira automática, sem refletir como tudo está acontecendo e qual o seu papel nessa dor.

 

E como acabar com a autossabotagem?

Se a melhor maneira de nós nos movermos é indo em busca do prazer, por que nos colocamos em situações e temos atitudes que nos fazem sofrer continuamente?

Esse tipo de indagação é o começo para a mudança. O primeiro passo é perceber em si os comportamentos autodestrutivos que nos afastam da felicidade. Entende?

Talvez possuir essa percepção e ir a fundo para descobrir por que e como tudo começou, relembrar fatos da infância, entrar em contato com pensamentos e lembranças que você tentou esconder de si mesmo seja bem doloroso no início.

Porém, tal percepção é fundamental para expandir a sua consciência da vida. Ela traz o autoconhecimento e ajuda a observar a relação das suas angústias do passado com a sua situação atual.

É lógico que não adianta só saber por que você se comporta dessa maneira agora (mesmo no fundo você querendo fazer tudo diferente). Mas ter essa consciência, já pode dar indícios do que precisa ser trabalhado e resolvido nas suas emoções, para que a mudança de fato ocorra.

Como o autoboicote é um comportamento que já virou um hábito em nossas vidas (e hábitos são difíceis de serem deixados de uma hora pra outra), mudar também vai doer um pouco. Mas é a única forma de acabar com todo o padrão.

Será que o avô do João também não agia dessa mesma forma? E então o seu pai passou a agir assim, sem também refletir muito? Será que o pai do João também não se angustiava por não ter tempo para o filho, mas ao mesmo tempo não conseguia ver como podia mudar?

Lembre-se de que tudo é uma escolha. Preferir não mudar e continuar com o mesmo tipo de padrão comportamental é também escolher.

Conseguir controlar a própria vida e ter plena consciência das suas ações e decisões e de como elas afetam seu bem-estar é libertador.

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